ALOCUÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTRO KAY RALA XANANA GUSMÃO POR OCASIÃO DA ABERTURA DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE A AGENDA DE DESENVOLVIMENTO PÓS-2015






Sua Excelência Sr. Anote Tong, Presidente da República de Kiribati
Sua Excelência Sr. Darcy Lilo, Primeiro-Ministro das Ilhas Salomão
Sua Excelência Ministra Emília Pires, Membro do Painel de Alto Nível
Dr. Kuntoro Mangkusubroto, Enviado Especial de S. Exa. o Presidente da República da Indonésia
Dr. Oluremi Gabriel Sogunro, Assessor de S. Exa. o Presidente da República da Libéria
Dr. David Hallam, em representação do Gabinete do Primeiro-Ministro do Reino Unido da Grã- Bretanha e da Irlanda do Norte
Ilustres Ministros do ‘g7+’ e das Nações do Pacífico e PALOP
Sua Excelência Dr. Noeleen Heyzer, Subsecretário-Geral das Nações Unidas e
Secretário Executivo da ESCAP
Distintos Deputados e Membros do Governo
Embaixadores
Representantes da Igreja, da Sociedade Civil e do Sector Privado
Ilustres convidados
Senhoras e Senhores
É uma honra receber todos vós, em nome do Governo e do Povo de Timor-Leste, nesta  Conferência Internacional. Gostaria de dar umas boas-vindas especiais aos nossos 227 convidados internacionais que vieram do mundo inteiro para participar nesta
conferência.
É um privilégio ter connosco em Timor-Leste um grupo tão distinto de líderes internacionais, peritos em desenvolvimento, académicos e representantes da sociedade civil e do sector privado. Acredito que partilhamos objectivos comuns, nomeadamente erradicar a pobreza e contribuir para a paz mundial. Falando em paz, voltei ontem da Coreia do Sul, onde participei numa Cimeira Mundial sob o tema “Paz, Segurança e Desenvolvimento Humano”. Tive então, em Seul, a oportunidade de informar o plenário de que estaríamos reunidos aqui hoje para discutir a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, lançados no ano 2000, ajudaram-nos no  caminho rumo ao desenvolvimento, porém alguns países – muitos dos países mais  pobres do mundo – ficaram para trás. É por esta razão que precisamos de falar entre nós ao longo dos próximos dois dias. Temos de estar preparados para ouvir falar do que é bom e do que é mau, bem como  do que funcionou e do que provocou estagnação ou fracasso em cada um dos nossos  países e na família mais alargada de países menos desenvolvidos (LDC).  Numa altura em que nos aproximamos do ano 2015, nem um dos países menos  desenvolvidos conseguiu concretizar um só Objectivo de Desenvolvimento do Milénio.  Estamos aqui todos para aprender uns com os outros e para nos ajudarmos mutuamente, de modo a podermos mudar o rumo das coisas em cada um dos nossos países e no que diz respeito ao nosso relacionamento com a comunidade internacional.   Mais de 1,5 mil milhões de pessoas vivem em nações frágeis e afectadas por conflitos. Isto representa quase 20 porcento de toda a humanidade. O que aprendemos em Timor-Leste, com a nossa experiência, é que não é possível alcançar o desenvolvimento sem segurança e sem paz. Tivemos de parar de lutar entre nós e de aprender a reconciliar as nossas diferenças de forma pacífica antes de termos podido sequer começar a abordar devidamente os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.  É por esta razão que acreditamos que a resposta à fragilidade global é um dos desafios de desenvolvimento mais urgentes do nosso tempo.Precisamos todos juntos de mudar as mentalidades das políticas de desenvolvimento.  Precisamos de perceber as razões para haver ainda tanta pobreza no mundo, com todo o esforço e a ajuda dos países doadores e das organizações internacionais. Temos ainda de explorar o porquê de – neste mundo moderno e globalizado – as  teorias económicas dominantes serem impostas aos pobres e fracos, ou absorvidas por  estes, quando estas teorias causam tanto sofrimento e só servem os interesses dos fortes e dos poderosos.  Mas temos em primeiro lugar a obrigação de olhar para nós próprios, para os erros que cometemos e para os retrocessos que podemos ter causado nos nossos próprios processos. Só desta forma poderemos orientar os nossos planos futuros através de um roteiro realista de acções  práticas.
 Senhoras e senhores,
Com os ODMs prestes a chegar ao fim, a comunidade mundial tem agora a oportunidade para stabelecer novas prioridades e uma nova visão para os anos após 2015. Encetamos esta tarefa numa altura de incerteza global. Para além dos conflitos e da fragilidade, o mundo regista uma desigualdade cada vez maior. Vemos a riqueza global concentrada nas mãos de uns poucos,  enquanto muitos permanecem em situações de pobreza extrema. A história vai-se repetindo, com a pobreza – e o conflito – das nações sem poder a beneficiarem as nações poderosas. Assim os pobres continuam a sofrer e o desemprego em redor do mundo continua a aumentar. E com a falta de emprego surgem a criminalidade e os conflitos. Não podemos continuar a fingir que não existe relação entre a desigualdade e o conflito. É por esta razão que Timor-Leste está tão empenhado no grupo de nações frágeis e afectadas por conflitos intitulado ‘g7+’. Este grupo de 18 nações trabalha de forma solidária e fala a uma só voz com o intuito de consolidar a paz e fortalecer os nossos Estados. Porém precisamos agora de mais do que 18 países a trabalhar juntos; precisamos de toda a comunidade internacional concentrada na concretização de metas acordadas.
Ontem, as nossas irmãs e irmãos das Ilhas do Pacífico reuniram-se para fazer ouvir as suas vozes e, hoje, vamos ouvir a sua mensagem. Estes são 13 e a juntar às vozes das 5 Nações dos PALOP, com os parceiros de desenvolvimento, temos um total de 48 Nações, ¼ dos Estados Membros das Nações Unidas.
Senhoras e senhores,
Temos agora não só de olhar para o futuro, como de procurar moldar este futuro. É chegada a hora de discutirmos o que tem funcionado no passado e o que devemos fazer para proteger o nosso futuro comum.  Tal como sabeis, o Secretário-Geral da ONU estabeleceu um Painel de Alto Nível.
Há dois dias participei na cerimónia de tomada de posse da Presidente da Coreia do Sul, a Sra. Park Geun-hye, e pude ver o orgulho nos olhos do povo sul-coreano. Também nós temos orgulho em ter uma mulher timorense no Painel de Alto Nível da ONU. Confiamos nela porque sabemos o quanto ela está a fazer para reformar o nosso sistema, o quanto ela tem dado ao ‘g7+’ para alterar as más práticas da ajuda ao desenvolvimento, e o quão forte ela tem sido no processo de consolidação estatal.
Senhoras e senhores,
Os resultados dos nossos debates nesta Conferência irão informar o Relatório do Painel de Alto Nível da ONU destinado ao Secretário-Geral. Como tal, apelo a todos vós para que participem, para que partilhem as vossas perspectivas e para que trabalhem juntos. É por esta razão que a agenda da Conferência é tão interactiva e que inclui sessões com grupos reduzidos, a fim de permitir a participação de todos e de possibilitar que todas as vozes sejam ouvidas. Precisamos de nos lembrar que muitas vezes as grandes ideias vêm dos sítios mais inesperados. Podem vir da pessoa mais jovem ou da nação mais pequena. E embora muitos de vós venham de locais cujas vozes raramente são ouvidas no palco global, o mundo precisa de ouvir essas vozes para que a agenda de desenvolvimento pós-2015 signifique realmente algo. É por isto que o tema da Conferência é
‘Desenvolvimento para Todos’. Assim, ainda que tenhamos que ser práticos nas nossas contribuições, isso não significa que não possamos ser ambiciosos. Não nos podemos esquecer que a construção da paz e a construção dos Estados são essenciais para estabelecer os alicerces que permitam a erradicação da pobreza e a concretização dos nossos objectivos de desenvolvimento.
Excelências
Senhoras e senhores,
Obrigado a todos por participarem nesta Conferência. Gostaria de deixar um agradecimento especial aos nossos parceiros generosos que possibilitaram a organização deste evento, nomeadamente o Instituto de Políticas Públicas do Pacífico, a Comissão Económica e Social das Nações Unidas para a Ásia e Pacífico, a AusAID e o g7+. Aqui estamos todos entre amigos, entre irmãos e irmãs. Tenho esperança de que as ideias que iremos discutir e de que as conversas que iremos manter sirvam para nos inspirar e nos unir a todos. Estou ansioso por me juntar a todos vós durante os próximos dois dias. Acredito que esta será uma conferência importante e produtiva e que servirá para moldar a visão global pós-2015. Desejo a todos uma discussão muito participativa!
27 de Fevereiro de 2013
Kay Rala Xanana Gusmão

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